A nossa sociedade recebe
informações rápidas, e num clique viralizamos muitas vezes sem pesquisar, sem
analisar, sem provar que as informações ou opiniões tecidas por terceiros são
verdadeiras.A exemplo de um colega de
profissão e de trabalho utilizei alguns dias livres para assistir a tão polemica
série original da queridinha do Brasil a NETFLIX: 13 Reasons Why.
Não pretendo aqui fazer uma
resenha sobre a série, mas sim externar a minha percepção, ou seja, o meu olhar
sobre a forma que a série aborda o tema do suicídio, portanto, é pessoal demais
e apenas quero compartilhar já que resolvi escrever.
Quando iniciei o primeiro
capítulo do seriado, fui cheia de preconceitos típicos de quem desconhece aquilo
que renega, mas fui profundamente tocada do início ao fim da temporada. Hannah,
era uma típica adolescente, numa típica escola, sujeita as mesmas situações da
vida real que foram dramatizadas na série. Quando decidi assistir eu achava que
se tratava de uma série que incentivava o suicídio e que era apelativo (isso
explica a minha introdução)... mas 13 reasons traz na ficção aquilo que as
famílias não conseguem verbalizar, ninguém consegue falar sobre, ninguém quer
dizer o motivo, e muitas vezes a vítima, sim, vítima, pois quem passa pela
situação de um suicídio ou tentativa estava precisando de ajuda, e teve que ser
o seu próprio algoz assim como foi sua própria libertação. Penso que todos os
profissionais que lidam com vidas deveriam sim assistir essa série, pois ela é
um tapa na cara dos nossos achismos ( ''Suicídio não é brincadeira, não julgue, não culpe, não ofenda...'' (RADIS 2017) ).Somos tão insensíveis que não
conseguimos entender porquê alguém faria algo assim, ou achamos que a pessoa
não valoriza ao que tem, mas nunca perguntamos o que ela está sentindo, aonde
está doendo, e o que podemos fazer para ajudá-la a superar isso. Eu mesma já agi assim... já
questionei pessoas próximas a mim que falavam sobre suicídio, sem nunca tentar
entender a história de vida delas, ou sua verdade... Esse seriado abriu o meu coração,
me deixou vidrada na expectativa de assistir o outro episódio... e eu pude
analisar como somos cruéis, como ignoramos o nosso próximo, ou como o
desprezamos para nos sentirmos melhores... Nada somos! Logo pensei: Quantos
gênios morreram por causa de gente babaca? Quantas meninas lindas se sentiram
feias por causa de garotas bobas que pensam que o centro do mundo é o seu
umbigo? Que cultura é essa de ódio e desrespeito que temos cultivado nas relações
escolares e profissionais? Tanta gente de licença médica por causa de assédios, perseguições
no trabalho, gente que quer apenas dá o seu melhor e é tolhida dia após dia, é
estigmatizada no ambiente laboral que deveria ser adulto e maduro... a escola e
o trabalho não serão um ambiente seguro e harmonioso enquanto não abordarmos essas questões explicitamente!
Hannah, conta os motivos de
seu suicídio... ela conta! Mas quanto aos que se foram e nós nunca saberemos o porquê,
pois nunca nos preocupamos, nunca perguntamos, nem sequer desconfiamos que
havia algo estranho? Ao longo da série fui
percebendo como é devastador para todos em volta, como a família não consegue
prosseguir sem entender... como afeta aos que tiveram a chance de dizer algo
pra garota e quando disseram a enterraram viva. Nada na série foi exagerado
demais para a realidade, apenas nós não conhecemos os motivos de pessoas
suicidas e quando se expõe isso de uma forma próxima da realidade nossa
insensibilidade torna-se crítica e descarta a intenção da série que é alertar
que isso é real e acontece todos os dias!
O suicídio tem que ser abordado
sim! Tem que ser motivo de Encontros, Seminários, Palestras, Grupos de
discussão e afins, pois segundo a OMS a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no
mundo, apenas 28 países tem planos estratégicos de prevenção ao suicídio que é
considerado uma questão de saúde pública. O Brasil ocupa a 11ª posição
registrando uma morte a cada 45 minutos o que quer dizer que 25 brasileiros se
suicidam por dia! (RADIS Comunicação e Saude, 2017) Camocim-Ce, teve noticiada cerca de 12 mortes em 2016 por suicídio, e
neste ano já aconteceram outros casos. É necessário noticiar sim, não aquela notícia
sensacionalista, mas aquele tipo de informação que diga para as pessoas que
isso está ocorrendo perto de nós. Precisamos conversar dialogar com diversos
segmentos, começando pelas escolas já que a faixa etária predominante de morte
no Brasil por suicídio é dos 15 aos 29 anos.
Que a sociedade se
responsabilize, que o governo se responsabilize, perguntem-se: O que estamos
fazendo? Que diferença estamos imprimindo no mundo? Estamos nos importando com
a pessoa ao lado? O que será que ela está passando? O que justifica seu
comportamento?
A lição que recebi através
desta série e dos dados alarmantes é que sempre haverá alguém mais vulnerável,
que o suicida mora ao lado, e ele avisa, ele da sinais, ele pede ajuda nem que
seja numa fala desconexa de uma piada fúnebre e sem graça. Quem diz que vai
se matar está pensando nisso sim, pois o natural do ser humano é preservar a
sua própria vida. Então não ignore as palavras, não ignore os sumiços, não
ignore as mudanças, as despedidas sem razão... nunca subestime a determinação
de uma alma enferma que busca a cura para a dor, a libertação, a solução, a
paz... nunca deixe que pessoas passem por você sem serem percebidas, sem
ouvirem uma palavra de vida e esperança, pregue o amor, pregue a paz, mas
também imprima em ações aquilo que tem pregado é importante que suas palavras sejam
condizentes com suas ações senão não serão valorizadas por quem escutar. Um dia
alguém partiu da minha vida assim, e eu estava muito longe e ocupada comigo
mesma para dizer um oi, ou enviar uma mensagem para esse alguém, espero que
tenha sido uma lição para o resto da minha vida.
E você que está lendo este
escrito se já pensou em tirar a própria vida, procure ajuda, converse com
alguém, escolha bem suas amizades, cuide de si mesmo, pratique algum esporte,
se preciso mude de ambiente e de amizades. Saiba que pra toda escuridão existe
um novo dia. Embora a dor seja maior do que a sua força de viver, você merece a
chance de tentar salvar a si mesmo. Conte comigo e conte com tantos outros que
estão espalhados mundo a fora.
#VontadeViva compartilhe a hastag criada pelo blog e divulgue o texto.
Procure ajuda em www.cvv.org.br ou pelo telefone 141
Por Aline Siebra
Graduada em Serviço Social
Escrito em: 19/06/2017 18h43